Corinthians e BMG: a mentira tem perna curta e não é marketing

Luis Paulo Rosenberg, apresentou, orgulhoso e fazendo provocações, uma parceria entre Corinthians e BMG. O problema é que em menos de uma semana o contrato de patrocínio que foi anunciado no valor de R$ 42 milhões ao ano, caiu para R$ 30 milhões e agora é de R$ 12 milhões. O que houve?

Pedro Henrique Brandão
5 min readJan 27, 2019
Márcio Alaor e Luis Paulo Rosenberg no anúncio do patrocínio. (Foto: Reprodução / Corinthians TV).

No último dia 22, Luis Paulo Rosenberg, na condição de diretor de marketing do Sport Club Corinthians Paulista, convocou uma coletiva de imprensa para anunciar o tão aguardo acordo de patrocínio máster da camisa Alvinegra.

Num discurso que misturou termos como “parceria inovadora” até abertas provocações ao arquirrival Palmeiras, quando Rosenberg diz “o banco BMG não tem pretensões políticas dentro do Corinthians”, o anúncio dos valores dava conta de R$ 30 milhões à vista mais R$ 12 milhões de bônus até o final do ano, totalizando R$ 42 milhões anuais, valor que colocaria o Corinthians como a segunda camisa mais valiosa do país. Outro a confirmar o valor foi Matías Romano Ávila, diretor financeiro do clube, que inclusive detalhou o acordo:

O valor médio calculado da parceria é de R$ 42 milhões, e nós já recebemos R$ 30 milhões. São R$ 24 milhões de patrocínio, e R$ 6 milhões de luvas. Se não acontecer nada este ano, se não abrir uma única conta no aplicativo, ainda assim nós lucramos R$ 30 milhões. No ano que vem, a mesma coisa

Um problema, entretanto, surgiu nesta sexta-feira quando uma ata de reunião do banco foi publicada no próprio site do BMG por questões de transparência. No documento consta o valor fixo de R$ 12 milhões mais 50% da arrecadação em produtos financeiros vendidos aos Fiéis torcedores por meio da plataforma Meu Corinthians BMG, que será lançada em fevereiro e dará acesso aos serviços exclusivos do banco aos corintianos.

Ata de reunião do BMG de 15 de janeiro que definiu o patrocínio ao Corinthians. (Foto: Reprodução / Máquina do Esporte).

Não é novidade a (im)postura de Luis Paulo Rosenberg ao atacar o Palmeiras para esconder os problemas do clube do qual dirige o marketing. Ao passo que o clube de Palestra Itália se reorganizou financeiramente graças a benevolência de seu presidente, Paulo Nobre, que colocou dinheiro do próprio bolso para salvar as finanças do clube e depois contou com um mecenas que proporcionou o maior patrocínio jamais visto no futebol brasileiro quando estampou a marca de sua empresa, Crefisa, na camisa alviverde.

O Corinthians afundou financeiramente ao ser dominado por um clã político que, embora tenha proporcionado anos vitoriosos, isolou o comando do clube fechando negócios escusos. Desta maneira, o clube contraiu uma dívida astronômica a ser paga por seu estádio que já apresenta problemas estruturais, em contratos ainda sob investigação por casos de corrupção; lançou mão de times fortes para competir no último Campeonato Brasileiro com um modesto time que, não fosse times mais fracos, quase foi rebaixado, além de perder poder econômico no mercado de transações.

Todos esses problemas foram acobertados pelos ataques de Rosenberg ao rival. Frases de efeitos que apontam ditos defeitos como “estádio em forma de pneu” ou “baleia num aquário” para se referir ao Allianz Parque; e várias outras alfinetadas em qualquer oportunidade.

Porém a mentira de Rosenberg vai além, quando o diretor de marketing corintiano diz que a “parceria Corinthians / BMG é inovadora” por permitir que o torcedor faça a ativação da parceria e defina quanto o clube receberá, está mentindo novamente e fazendo seu torcedor de bobo.

O ano é 2000, Corinthians e Pepsi anunciam uma parceria em que a empresa se autodenominou “Da Fiel”, num plano em que conforme aumentasse a venda de refrigerantes, mais o clube receberia de patrocínio. Familiar com a plataforma do BMG , em 2019?

Com a Pepsi a estratégia naufragou em 2002, e o contrato de patrocínio resistiu apenas até 2004. O problema em atrelar valor de patrocínio à participação do público é que estamos falando justamente de futebol, uma paixão em que lidamos com pessoas movidas por um sentimento completamente passional. Isso faz com que torcedores de outras equipes não comprem ou não utilizem serviços da empresa que se autodenomina de um ou outro clube.

Mais um problema na gestão comercial do Corinthians pode ser visto na quantidade de patrocínios que o clube tem hoje. Apesar de o BMG ser o patrocínio máster, existem mais 6 patrocinadores na camisa alvinegra (Universidade do Brasil, PES, Minds Idiomas, Agibank, Poty, FoxLux).

Esse movimento de fatiar a camisa para muitos patrocinadores foi comum no início da década, como consequência a diminuição de bons patrocinadores no mercado já que a empresa pode comprar uma ativação no “outdoor eletrônico” como disse Rosenberg, a qualquer momento dependendo do desempenho do clube. Curiosamente o banco BMG que aparecia naquele momento como solução, em 2019, reaparece com o mesmo status.

Vale ainda ressaltar que Ricardo Guimarães, proprietário do banco BMG, foi condenado em processo da justiça federal, em 2012, pelo caso do Mensalão, a cumprir 7 anos de prisão. O gosto particular de Ricardo pelo futebol fez o BMG estender longos tentáculos no futebol brasileiro patrocinando diversos clubes, mas ao adiantar receitas, como banco que é, cobrar juros que, ao final de 2011, somavam mais de R$ 250 milhões.

“O Corinthians pegou R$ 12 milhões de 2019 e adiantou os R$ 12 milhões de 2020. E temos R$ 6 milhões prevendo um lucro que vai vir da plataforma. No ano que vem, a gente só recebe o que tiver de lucro na plataforma, essa é a tendência”.

Com esta frase Andrés Sanches explicou, na noite deste sábado, a polêmica sobre os valores do patrocínio. Obscuro e irresponsável na gestão do clube como é a marca registrada da gestão Andrés.

Na prática, não só o patrocínio tem um valor muito abaixo do anunciado ou previsto por Luis Paulo Rosenberg, como também, o clube não tem saldo a receber em 2020 por já ter adiantado a receita e, se a ativação via plataforma online não der frutos, deverá, pelo menos, R$ 6 milhões ao banco BMG ao fim de 2020.

O presidente corintiano se apega na ideia de que o mercado de transmissões dos jogos está em transformação. Andrés cita o caso da Copa Sul-Americana que a partir deste ano não será transmitida exclusivamente por TV aberta. De acordo com o mandatário alvinegro “o Corinthians está saindo na frente neste tipo de parceria, porque tudo está ficando digital”.

De qualquer maneira, digital ou não, existem apenas duas formas de gerir um clube: da forma certa, com responsabilidade econômica e protegendo o patrimônio do clube; ou da forma errada, antecipando receitas como se não houvesse amanhã.

Igualmente, assim é com a história: verdades ou mentiras. No caso do Corinthians a história está se repetindo como farsa nas mentiras ou inverdades de Luis Paulo Rosenberg, que mente acreditando estar fazendo marketing. Não está!

Luis Paulo Rosenberg, Andrés Sanches, Ricardo Guimarães e Márcio Alaor firmam a parceria Corinthians-BMG (Foto: Daniel Augusto Jr / Agência Corinthians).

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Pedro Henrique Brandão

Não sou especialista, escrevo do que é especial pra mim. Futebol além das quatro linhas e um pitaco disso ou daquilo. Minha alucinação é suportar o dia a dia.